quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pensamentos com cinco pontas


Inclinei minha cabeça para cima e contemplei a falta de estrelas no céu, naquela noite fria. 
O ar fresco inundava meus pulmões, me fazendo sentir inexplicavelmente livre, e tudo pareceu mais fácil. Pude ouvir o coaxar dos sapos ao longe. Eles já não me incomodavam tanto. 
Senti a presença dos meus cachorros logo ali na varanda, e ouvi sua respiração confortável e serena. O calor emanado daqueles pequenos seres me deixava mais alegre, um tipo de felicidade daquelas simples e fáceis. Esse tipo é o melhor, porque enche o coração da gente e, ainda que a sensação seja de que o coração pode explodir a qualquer momento, ela traz paz. 
Estranhamente senti o cheiro de tulipas. Fechei os olhos e imaginei um campo repleto das minhas flores preferidas. 
Quando abri os olhos novamente, as estrelas ainda não estavam ali. 
Onde andariam elas? Talvez cansadas de mais para ficar ali paradas na imensidão escura, ou chateadas por fazerem um espetáculo tão belo e a maioria dos espectadores aqui em baixo não lhes dar a atenção merecida. Quem sabe ainda com cartazes nas mãos, reivindicando melhores condições de trabalho para quem tem que ficar a noite toda acordada? Às vezes só estavam cumprindo seu papel de ter culpa no livro mais famoso de John Green. Ou a ausência delas seria apenas um sinal de que pudesse chover no dia seguinte.
Engraçado eu pensar nisso agora, mas talvez se eu conseguisse conversar com elas... Não sei, só pra passar o tempo e me distrair um pouco. Seria uma espécie de alívio poder concentrar todos os meus esforços em só falar com as estrelas. Minha mente se focaria nisso e os pensamentos esgotantes sairiam pela válvula de escape. 
Mas, pensando bem, para onde eles iriam? Todos os meus pontos de interrogação, exclamação, reticências, vírgulas, coraçõezinhos (aqueles que vieram me fazer companhia ultimamente) e até mesmo os pesarosos pontos finais que tinham como morada meu cérebro, onde eles iram parar?
Talvez eles virassem estrelas e eu conversaria com eles uma noite dessas. 
O que, no final, se mostraria um trabalho inútil, já que funcionaria como um círculo vicioso onde tudo o que eu penso voltaria, "estelarmente" ou não, para mim. 
E, bom, eu não acho que deva reclamar disso. Porque imaginar minha cabeça num vácuo completo, onde era antes um lugar habitado por sonhos, fantasias e histórias cheias de amor, me faria desejar que ao menos um medozinho ou paranoia estivesse ali para me fazer companhia.
É, não se pode julgar as estrelas por querer dar uma volta de vez em quando.



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