Foi fácil saber que você estava
chegando.
Soube assim que decidi acordar.
Sim, eu acordei quando quis, e não quando os cachorros determinaram que já era
hora de começar a latir freneticamente para o sol saindo por detrás do
horizonte.
Levantei-me calmamente e olhei-me no
espelho. As olheiras com as quais eu fui dormir na noite anterior haviam
desaparecido milagrosamente.
Abri as janelas e vi que a
temperatura estava ideal para que eu pudesse usar minhas botas favoritas.
Dei bom dia para o céu e fui tomar
um banho. Preciso dizer que não tive que, pacientemente, esperar até que o
chuveiro resolvesse me presentear com água quente: ela já estava me esperando
assim que girei a torneira.
O vidro de suco de abacaxi ainda tinha
a medida exata de um copo quando eu já estava resignada a preparar alguma outra
coisa para beber e me atrasar novamente para sair de casa.
Já caminhando, a brisa tocou
levemente meu rosto e eu senti cheiro de tulipas. Lembrei-me de quando eu era
criança e o vento bagunçava meu cabelo quando a aventura de subir bem alto com
o balanço parecia jogar meu estômago nas nuvens.
Como sempre faço em momentos de
folga da minha mente, comecei a imaginar tudo o que ainda iria acontecer ou não
no futuro. Essa minha paranoia teve que esperar, porque hoje, nesse momento, escutei
ao longe tocar a música da minha vida. Passei o resto do caminho cantarolando
baixinho, imaginando que todas as pessoas a minha volta ficariam mais felizes
se cantassem o que as fizesse bem.
Passei o dia todo com o coração
feliz. Eu disse que comi mousse de maracujá na sobremesa? Sim, seu doce que
acabou por se tornar o meu.
Indo embora, passei na livraria e o
livro que eu tinha encomendando finalmente chegara. Já podia ver as várias
marcações que faria nos melhores trechos.
Entrei em casa e senti cheiro de
você.
Foi muito fácil saber que você
estava chegando.
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