sexta-feira, 23 de março de 2012

Ela



Um pedaço de papel, caneta na mão, e a vontade de mudar o mundo. Talvez seja essa a frase que melhor a descrevesse, aquela menina de cabelo bagunçado e olhar perdido. Nunca vi ninguém que tivesse tanto receio de olhar dentro dos olhos de outra pessoa. Parecia até que toda a sua alma fosse ser revelada se isso acontecesse. Bom, para ela, era assim que funcionava.

A caneta com tinta preta na folha branca descrevia a sensação de paz que as cores de um arco íris pode trazer. Tornozelos cruzados, o caderno no colo, a franja caindo sobre os olhos e a sensação de estar sozinha. Quantas vezes ela já havia percebido a ironia da vida sob a forma de palavras? Mas nem ousaria perguntar quantas vezes as palavras foram sua companhia.

Gostava de estar perto de gente que sorria. Observar as pessoas lhe deu a oportunidade de conseguir enxergá-las como verdadeiramente são, em seu estado mais natural possível, quando não se preocupam se o vento está favorável à sua aparência. Gente que sorria de verdade era tão fascinante quanto o elogio de uma criança.

Seu engajamento em fazer da vida sempre programada e organizada se chocava com o quarto bagunçado e as unhas roídas, ilustrando a casa de sentimentos confusos que era.

Deitava-se na cama virada para o lado direito e pensava na vida. Colocava para tocar o álbum mais tranquilo da banda preferida e se deixava levar pela melodia, pela poesia. Aquilo era pura poesia. Inconscientemente, se virava para o outro lado e adormecia ouvindo a voz serena de quem se está em paz.

Trazia nos lábios a sinceridade de quem não vê problema em dizer o que se pensa sempre. Mas há problemas, e ela descobriu isso.

Via em cada nova conversa a possibilidade de conhecimento. Aprender era uma de suas grandes paixões. Consequentemente, escutava mais do que se manifestava.

Ferimentos passados deixaram cicatrizes em seu coração. As marcas da dor não podem ser apagadas totalmente, e é isso que as devem tornar tão maravilhosamente belas.

Era perversa a maneira como se pressionava. Como tentar atravessar o Atlântico em um barco a vela numa rota em linha reta sem se deixar desviar para lado nenhum pelo movimento das ondas. E se mostrava paciente com o erro dos outros.

Punha-se a sonhar em cada momento vazio do dia. Preferia aqueles sonhos bem improváveis, que talvez ficassem apenas em sua cabeça, mas eram só dela. O tipo de egoísmo aceitável, o que ninguém pode julgar. 

Sabia que independência nada tinha a ver com liberdade, pois é possível viver preso em si mesmo durante toda uma vida. Ela gostaria de se sentir infinita. 

Aprendi a respeitar essa menina, como faço com um livro novo. Todos merecem ser lidos. 

4 comentários:

  1. Não se cansava de escrever. Escrevia muito bem. Foi a melhor amiga que alguém poderia ter. E já acampou na sala de casa...
    esqueceu destes detalhes Bela

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  2. Amandinha! Obrigada, você também viu!
    E eu ainda sou sua amiga, então não use esse verbo no passado rsrs
    Te amo de mais, e eu vou acrescentar esse fato do acampamento na sua casa...
    Te amo mesmo, não esquece não...

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  3. Amei o texto *-* Lindo lindo lindo *------------------*

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