quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Invisíveis Certezas - Buscas, desencontros e um auto-falante, capítulo quinto

Olá queridas pessoas que sabem ler!
Primeiramente, gostaria de compartilhar com vocês que estou cada vez mais apaixonada pelo Gui e pela Alicia.  Esta história está nos proporcionando - a mim e a Amanda, do blog 2% de você - sentimentos muito contraditórios. É uma vontade gigante de terminar de escrever o conto Invisíveis Certezas, e ao mesmo tempo aquela possessividade e carinho com os personagens que nos fazem querer tê-los conosco pra sempre. Então não se assustem caso escrevamos infinitos capítulos, e com a última linha sempre deixando um gostinho de quero mais.

Você que está começando a acompanhar o projeto hoje ou você que quer reler os capítulos anteriores, nas versões masculina e feminina, clique aqui.
Para ler o lado Alícia deste capítulo, clique aqui





 03:30, madrugada de quinta-feira. Está realmente exaustivo tentar dormir com toda essa ansiedade me tomando o peito. Sinto como se as paredes do quarto fossem se fechar contra mim, me esmagar, me pressionar até que todos os meus ossos não sejam mais do que pó. 

04:50 Pego o celular e verifico se Alícia mandou alguma mensagem, ou deu qualquer tipo de notícia. 

05:30 Ok, desisto de me torturar. Depois de tomar banho, e me arrumar, desço até a cozinha onde meu pai já está preparando o café. Ele se assusta por me ver pronto já cedo. Respiro fundo e digo que terei de faltar à escola e ao trabalho hoje. 
                                                          
-E eu posso saber o por quê? 
-Claro. Bom, mais ou menos. O senhor não entenderia. Mas basicamente, eu preciso encontrar uma pessoa. 
Ele me olha com aquela expressão de quem não está gostando nada disso. Entretanto, inesperadamente, balança a cabeça e sai resmungando. "Esses jovens de hoje em dia...".

06:30 Ainda é tão cedo! A Alícia não deve estar nem perto de São Paulo! Vou para o quarto e ligo o computador. Talvez haja algum recado dela para mim deixado na noite anterior. Verifico, e nada. 
Escuto o barulho de minha mãe acordando e se preparando para ir trabalhar. Se eu soubesse o que fazer ou para onde ir, poderia pegar uma carona com ela.
Vejo que Isabela, a melhor amiga da Alícia, está online. 
-Ei! - eu a chamo.
-Olá, menino da cidade grande. 
-Como vai Isabela? Será que você não teria alguma notícia da Alícia para mim?
Ela manda risadas, e talvez eu deva me sentir um pouco idiota por isso.
-Guilherme, fazem apenas umas duas horas que eles saíram daqui. Espere um pouco, se acalme.
-Eu sei, eu sei. Desculpe, estou um pouco ansioso.
-Entendo. Olha, preciso ir para a aula. Anote aí meu número, qualquer coisa me liga.
Peguei uma caneta e escrevi-o numa folha do bloco em cima da escrivaninha e joguei o papel dentro do bolso do jeans. Era mais rápido do que teclar naquelas minúsculas letrinhas no celular. Digitar quando se está nervoso é mais difícil do que parece.  

07:00 Decido ir com a minha mãe até seu escritório no centro e esperar por algum sinal da Alícia lá. Pelo menos vou estar fazendo alguma coisa. Pelas janelas do carro, busco o rosto da garota dos meus sonhos em cada um que meus olhos alcançam. 

08:20 Repasso em minha mente todas as informações que tenho sobre essa viagem:
1° Estava previsto estarem no shopping Center Norte às 9:30.
2° Planejavam visitar o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca.

09:00 Não aguento mais essa angústia. Disco o número dela, mas está fora de área. Aproveito que minha mãe está atendendo um paciente, digo para a secretária avisar que mais tarde ligo para ela e saio rumo às incertezas que pairam sobre mim. 
Decido ir andando até o shopping, já que não é muito longe daqui. Eu certamente não sabia que iria me arrepender disso um pouco depois.

09:40 Fui roubado. Talvez eu deva ver pelo lado bom e agradecer pelo homem de agasalho preto e bermuda azul clara ter levado somente meu celular. Foi tão rápido que ele não percebeu o volume no outro bolso e me deixou com a carteira intacta. Também não aconteceu nada comigo, fora o susto. Eu nunca tinha sido assaltado, e isso não era um bom sinal para o dia que já não andava tão bom.

10:00 Passo pelas portas de vidro do centro comercial e instintivamente vou à livraria. Procuro por entre as prateleiras e bancadas, e, quando finalmente me convenço de que ela não está aqui, me sento no banquinho em frente a porta. A Alícia não vai deixar de vir ao paraíso da leitura, pensei.

11:00 Eu devia estar com uma cara péssima, pois era como se as pessoas que passavam por mim se segurassem para não me dar um ombro onde eu pudesse chorar. O relógio em meu pulso - graças a Deus escondido pelo moletom cinza que usava e, portanto, fora da vista do ladrão - me orientava e não me deixava totalmente à mercê do tempo. 

12:00 Quando fui pegar minha carteira para ver quando dinheiro tinha, percebi o pedaço de papel amassado com o número da Isabela. Senti uma pontinha de esperança me invadir. Fui até o orelhão do shopping e coloquei o cartão telefônico que meu pai sempre me disse para carregar. "Para o caso de uma emergência". Obrigado, pai! 
Ela atendeu no terceiro toque.
-Alô?
A fala estava um pouco engraçada, como se estivesse comendo. Que sorte a minha, era a hora do intervalo na escola.
-Isabela, sou eu, Guilherme. Fui roubado e estou te ligando de um orelhão. Liga para a Alicia, por favor, e diz que estou esperando por ela em frente à livraria do shopping - disse rapidamente para que o meu tempo não acabasse. 
-Ok, darei o recado.
Esperei alguns minutos, disquei o número já decorado de Alicia e esperei que me atendesse. 
Assim que escutei a voz dela do outro lado da linha, a ligação caiu. Verifiquei se ainda tinha unidades para gastar e liguei novamente para ela, que, dessa vez, deve ter recusado a chamada.
Minha esperança era que Isabela tivesse tido mais sorte que eu, então voltei para meu posto inicial.

12:45 Desisto de esperar. Vou até a praça de alimentação, compro um sanduíche e sigo para a Pinacoteca. Preciso tomar algum caminho, ou deixar que meus pensamentos me levem para a escuridão de imaginar que Alicia é só uma invenção. Uma triste ilusão. 

13:00 Entro no prédio de tijolinhos à mostra e começo a procurá-la em todos aqueles visitantes. Tentar reconhecer seu olhar cheio de sonhos, calor e poesia em tantos rostos indiferentes à beleza do mundo e da arte era frustrante. 

13:20 Depois de perambular por todas as salas e andares, me deparo com uma porta: SALA DE SEGURANÇA E AVISOS. A ideia me surge tão rápida e surpreendentemente, que me pergunto como não pensei nisso tão logo que cheguei e percebi a música vinda dos altos falantes. Bato na madeira maciça e um grande sorriso se abre em meu rosto, me mostrando que uma pequena parte do que chamamos de sorte ainda não me abandonou totalmente. 
-Seu Manoel! O senhor não imagina como estou feliz de te ver por aqui.
-Guilherme? Visitando a exposição? Acho que se perdeu, as salas são por...
Seu Manoel era o vigilante das câmeras de segurança do prédio onde moro. Pelo visto, esse era apenas um de seus empregos. 
-Não, estou exatamente onde deveria.
Expliquei-lhe toda a minha situação. Ele cedeu em me deixar falar por alguns segundos no microfone que seria ouvido por todos que estivessem ali. 
Minha última cartada. Minha última tentativa. Era isso ou perder a oportunidade de ver a Alicia do meu país das maravilhas. 


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