terça-feira, 4 de novembro de 2014

imposição


Dormiu menina, acordou mulher.
Teria sido a taça daquela bebida azul e estranha que a instigaram a tomar na noite anterior? Ou quem sabe os acontecimentos recentes? Aqueles que a fizeram querer ir a tal lugar e se deixar persuadir a tomar a bebida estranha e azul.
Talvez a ciência explicasse essa repentina transformação em seu ser. Explosões cósmicas ocorridas na madrugada passada poderiam ter a afetado diretamente.
Ela conferiu: e a mudança, percebeu, havia acontecido apenas em seu interior. 
Mãos continuam as mesmas, pés continuam os mesmos. A barriga também esta ainda um pouquinho maior que o desejado. Mas ela não se importava tanto. Não mais. Era uma mulher. Mulheres têm coisas com o que se preocupar, se importam com assuntos importantes. Elas eram mulheres de verdade, era o que diziam. 
Ainda se lembrava de quando as pessoas falavam: "você já é uma mocinha",  e ela percebera que não poderia mais brincar de pentear suas bonecas. Brincadeiras deixaram de fazer parte de sua vida naquele momento. Foi-se indo a vida e, de mocinha passou à moça. Até que então, de repente, mulher. E suas músicas preferidas deixaram de ser ouvidas. Não eram adequadas para ela.
Uma grande e brusca virada na roda. Nada de gradual ou silencioso. Acordara com vontade de ler a coluna de politica no jornal. 
E pronto, era mulher. 
Sendo assim, mulher, teria de agir com coragem e determinação em todos os momentos de sua vida. Era adulta, tinha que se comportar como uma, todos diziam.
Ela se sentia errada, já que sua alma estava mais experiente - e talvez alguns vestígios de rugas estivessem aparecendo em seu rosto - mas toda a confiança e ausência de medo que ela deveria estar sentindo não existia, não para ela. Talvez ela fosse mesmo errada. Ou talvez fosse apenas mais um ser humano. Imperfeita, e real.

2 comentários:

  1. Meu Deus!
    Que sutileza pra escrever.
    Que sensibilidade!!!

    Que orgulho!

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