domingo, 28 de julho de 2013

Incompleto/indefinido



-Bel, a campainha tá tocando! - grita a mamãe da cozinha.
-Tudo bem, já vou! - grito de volta da varanda.
Essa história de gritos não é nada bacana. Se ela escutou, por que não foi atender?
Tiro Hassan de cima do meu colo, onde ele estava confortavelmente aninhado e o coloco em cima da cadeira. Não adianta, ele se levanta e me segue pelo entorno da casa.
-Quer vir comigo bebê?
Por que as pessoas, principalmente as garotas, tem essas mania de falar com seus cachorros como se fossem nenéns? Não sei, mas não paro de fazê-lo.
Abro o portão e então...
-Oh!
Tampo a minha boca. Que idiota Isabel! Soltar uma interjeição de susto? Patético até mesmo para você.
João sorri, enquanto está parado, com uma das mãos apoiada no muro. 
-Tudo bem, Bel?
Bel. Ele ainda me chama de Bel. Bel. Bel. Bel. Bel. Bel. Bel. Bel. Bel. Bel. Bel...
-Tá tudo bem? -ele pergunta com um feição preocupada. Só então percebo que eu estava completamente imóvel, com a boca aberta, pensando na casualidade com que meu ex-quase-namorado que eu não via a anos estava parado em frente a minha casa me chamando pelo meu apelido.
-Ah, oi, sim. Tá tudo ótimo, e com você? Você quer entrar? Nossa, quanto tempo! O que você tá fazendo aqui?
Ai meu Deus, Isabel! Cala a boca! Argh, por que eu insisto em passar vergonha? 
João ri pra mim. Foco Isabel, foco. Não olhe para ele. 
Olhando para a esquerda do rosto dele, eu digo:
-Desculpa. Hum, entra. 
Ele olha para trás.
-Tem alguém atrás de mim? 
-Não, por quê?
-Você tava olhando para lá... - ele diz, confuso.
Eu sorrio. 
-Esquece - então entro, enquanto ele me segue.
-Mamãe, olhe só quem apareceu. - digo, já na cozinha.
-Não acredito! João! 
Eles se abraçam, fazem os cumprimentos costumeiros e minha mãe começa a fazer milhões de perguntas para ele sobre a nova vida, nova cidade, tudo. Eu apenas me sento, e começo a brincar com uma linha solta do pano de prato que minha mãe jogou na mesa de tanta euforia. Não dá pra acreditar que ele esteja aqui. Não quero prestar atenção na conversa que se segue ao meu lado, porque eu me esforcei de mais para parar de imaginar como estava sendo a vida dele. Foi difícil, mas eu tinha superado. Até agora. 
-...não é mesmo, Bel?
-Desculpe, o que?
Minha mãe deu um tapinha em sua testa, demonstrando minha lerdeza. 
-Acorda minha filha! A gente tava falando que seria muito legal se o João ficasse pro almoço. 

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